A ESTRUTURA CIRCULAR DA COMPREENSÃO NA OBRA SER E TEMPO DE MARTIN HEIDEGGER

O objetivo deste trabalho é abordar a constituição circular da compreensão na obra Ser e Tempo, de  Martin Heidegger. Esta tarefa  abrange mostrar como  o  círculo  hermenêutico diltheyneano, apropriado e reformulado por Heidegger, juntamente com a fenomenologia transcendental de Husserl, aplicados no projeto inicial do jovem Heidegger de uma filosofia como ciência originária, levará a uma leitura aristotélica da fenomenologia transcendental, o que resultará na ontologia fundamental, que é o resultado de uma fusão da fenomenologia, da hermenêutica e  da ontologia. O  círculo  hermenêutico aplicado  na questão  do ser tem  a peculiaridade de, além de método, constituir o ente privilegiado, o ser -aí, que se apresenta como um novo fundamento para a ontologia. Porém, no decorrer da analítica, a temporalidade autêntica, como sentido do ser do ser-aí, apresenta-se como um modo de uma temporalidade originária, na qual se funda. Buscaremos expor a diferença entre a temporalidade autêntica (Zeitlichkeit) e a temporalidade originária (Temporalität), mostrando como a temporalidade originária se torna problemática para o círculo hermenêutico e para a analítica existencial em Ser e Tempo, por dar a ideia de um fundamento externo ao ser-aí. Tentaremos solucionar este problema   por   meio   de   uma   interpretação   dos   parágrafos   finais   de   Os   Problemas Fundamentais da Fenomenologia, visando justificar a tese de que a temporalidade originária torna-se um problema para a compreensão da circularidade e finitude do ser-aí. De acordo com esta interpretação, a caracterização da temporalidade originária como o  a priori em sentido fenomenológico permanece obscura, uma vez que seu caráter ontológico não é plenamente esclarecido no âmbito da discussão de Ser e Tempo. A questão, no entanto, seria retomada no diálogo de Heidegger com Kant em Kant e o Problema da Metafísica, no qual se busca uma fundamentação da ontologia a partir da finitude do ser-aí.

The objective of this dissertation is to discuss the circular constitution of comprehension in  Being and Time. This task encompasses to show how  circle,   as   appropriated  and   reworked   by  Heidegger,   along   with   the   transcendental phenomenology  of  Husserl,   applied  in  the  initial  project  of  the  young  Heidegger  of philosophy as  a originary  science, will  lead to  an aristotelian reading  of transcendental phenomenology, which  will  result  in the fundamental ontology, which is the result of a merger of phenomenology, hermeneutics and ontology. The hermeneutic circle applied to the question of being has the peculiarity that, in addition to being a method, constitutes privileged being itself, the Dasein, which presents itself as a new foundation for the ontology. However, during the existential analysis, authentic temporality as the meaning of being of Dasein, is presented as a way of an originary temporality which is the foundation of Dasein itself. We seek to expose the difference between authentic temporality Zeitlichkeit) and the originary temporality (Temporalität), showing how the originary temporality becomes problematic for the hermeneutic circle and the existential analysis in Being and Time, because it indicates an external grounding of the Dasein. We will try to solve this problem through an interpretation of the final paragraphs of The Basic Problems of Phenomenology, aiming to justify the thesis that the original temporality becomes a problem for the understanding of circularity and finitude of being-there. According to  this interpretation, the characterization of originary temporality as a priori in the phenomenological sense remains unclear, since its ontological character  is  not  fully clarified  in the context  of the discussion of Being and Time. The question, however, would be resumed in Heidegger's dialogue with Kant in Kant and the Problem of Metaphysics, in which one seeks a foundation of ontology on the finitude of Dasein.